segunda-feira, 18 de setembro de 2017

A de ALMEIDA FERNANDES

A Almeida Fernandes
Armando de Almeida Fernandes nasceu em Britiande, freguesia do concelho de Lamego, a 26 de Novembro de 1917. Faleceu em 2002.
É considerado um dos maiores estudiosos da época medieval portuguesa.
À data da sua morte, tinha publicado cerca de 70 obras.
Após a sua morte, foi instituiu o Prémio “A. de Almeida Fernandes – História Medieval Portuguesa”, com o objetivo de homenagear este Historiador Medievalista e incentivar a novos estudos sobre a Idade Média.
Almeida Fernandes colocou o Soito no mapa das povoações romanas.

João Luís Vaz, numa homenagem a Almeida Fernandes

Em 1968 publicou o livro “Paróquias Suevas e Dioceses Visigóticas”, no qual afirma que o Soito é uma antiga “civitas romana”, que era uma paróquia com preponderância na zona e que, por isso, é citada no paroquial visigótico como sendo a paróquia mais a sul da Diocese de Caliábria.
 Esta diocese abrange todo o território da chamada Riba Côa e ainda mais algum situado na margem esquerda do Côa. O Soito ficava dentro desta diocese, que aparece citada em documentos a partir de 633 e referida expressamente como diocese na “DIVISIO WAMBAE”, atribuído ao rei visigodo Wamba, que reinou do ano 672 a 680.
Esta “Divisio”, conhecida como “Provincial Visigótico”, relaciona as dioceses católicas visigodas da Península Ibérica.
O “Provincial” refere a diocese nos seguintes termos: “Caliabria teneat de Sorta usque Albenam, de Sotto usque Farum” = Caliábria abrange desde Sorta até Albenam, desde Sotto até Farum .
Segundo A. de  Almeida Fernandes,  Sorta limita a diocese a Oeste e corresponde à atual povoação de Lapa, Albenam corresponde a Alva, na atual fronteira portuguesa com a província de Salamanca, Sotto corresponde ao nosso Soito, limite a sul e Farum, a norte, corresponde a paróquia existente no que atualmente é conhecido como Monte Faro sobre o Rio Tua.
A. de Almeida Fernandes afirma que o Sotto citado como limite da diocese é o nosso Soito e é referido no documento porque era uma antiga “civitas romana” e paróquia visigótica, com  preponderância na zona.
A referência ao Soito no documento do século VII como a paróquia que limitava a sul a nova diocese diz-nos que a nossa paróquia era a mais importante, a mais conhecida, a mais facilmente identificável na zona.
Tendo em conta que a Igreja sueva e visigoda conservou na sua organização, as antigas divisões territoriais do Império Romano, temos de concluir, com Almeida Fernandes, que o Soito, referido no paroquial do século VII, era uma paróquia do antigo Império Romano.

MARCOS OSÓRIO


Marcos Osório - foto facebook
O Dr. Marcos Osório é autoridade reconhecida no conhecimento da nossa terra e tem feito um trabalho extraordinário no estudo histórico do concelho do Sabugal.
Desde 2009, a revista do Museu do Sabugal, “SABUCALE”, publicada pela autarquia, tem sido veículo de muito do seu trabalho.

Em 2006, a Câmara Municipal da Guarda promoveu a publicação da sua tese de mestrado apresentada à Faculdade de Letras de Coimbra, em 2000.
Foi publicada em livro com o título “O Povoamento Romano do Alto Côa”.
Nas páginas iniciais do livro, o Prof. Jorge de Alarcão, sumidade na história e arqueologia portuguesa, faz a APRSENTAÇÃO,  na qual refere que esta nossa zona tem estado abandonada pelos investigadores e que Marcos Osório é um dos pioneiros dessa investigação.

No livro é apresentada a estrada romana que passa pelo Soito, proveniente de importante cidade romana, na zona da atual Espanha (Irueña), entrando em Portugal atual na Lageosa, passando pela Granja até ao nosso povoado e, pelo caminho antigo do Ozendo e Torre, se dirige para a Beira Baixa, passando o Côa no Sabugal.

Refere que a via romana entre o Soito e a Torre percorre “nitidamente uma área de cumeada e evitando algumas linhas de água”.

Está sustentada pela visualização de fotografia aérea e por diversas alminhas (cruzeiros) ao longo do trajeto e por assentamentos arqueológicos que foram identificados.

Tendo em conta que as vias antigas, percorridas por carros de vacas, evitavam as linhas de água e grandes desníveis no terreno, penso que poderá vir a ser considerada esta via que passa pelo Soito e, por Ozendo e Torre, entra na parte Sudeste do Sabugal, mais utilizada do que a via que segue o percurso de Vila Boa e Rendo.

Os diversos assentamentos romanos, até agora, estudados pelo Dr. Marcos Osório dentro do perímetro da nossa freguesia, situam-se para os lados da Granja.

A identificação desta via romana pelo Sr. Dr. Marcos Osório, posteriormente aceite por outros importantes autores¸ é essencial para o reconhecimento do Soito romano, já que uma povoação romana, com alguma importância, teria de ser servida por uma via apropriada

JOÃO LUIS INÊS VAZ



João Luis com o irmão Carlos
O nosso conterrâneo João Luís da Inês Vaz – filho do Ti Zé Catrina – doutor em pré-história e arqueologia pela Universidade de Coimbra “é considerado um dos mais reputados estudiosos, a nível internacional, dos Lusitanos e da Lusitânia Romana”, segundo vem referido no livro “Grandes Enigmas da História de Portugal” Lisboa, 2008.

Este nosso ilustre conterrâneo, publicou em 2009 o livro “Lusitanos no Tempo de Viriato”. Fiquei desde então a pensar no parágrafo que ali é estampado, referindo-se à “metade oriental do concelho do Sabugal”:

“Ainda hoje o cavalo continua a ser o animal mais respeitado e mais apreciado pelos habitantes desta região, continuando a ser alvo de grande estima. Ora pensamos que esta situação é tradicional, vinda desses longínquos tempos lusitanos”.
 

Desde que li este parágrafo, quando penso ou leio alguma coisa sobre a nossa história, vem-me à memória inevitavelmente esta ideia de que os antigos povoadores da nossa terra, ainda por aqui continuam.

Diz ainda o João Luís que a “maluta” que ainda há poucos anos se praticava no Soito, e em que o prémio do vencedor era apenas o de ser considerado o mais valente, vem precisamente das lutas de pugilato e corrida que o historiador romano Estrabão atribui aos Lusitanos do seu tempo.


A Lusitânia no tempo de Viriato é situada entre o Douro e o Tejo abrangendo a zona da atual Beira Interior - Beira Alta e Beira Baixa Alta e Baixa, parte da Beira Litoral e um pouco do Alto Alentejo.

À chegada dos Romanos, os Lusitanos estavam constituídos em povo com costumes mais ou menos uniformes que se foram mantendo e que apuraram com a assimilação da civilização romana.
 
Temos então de investigar mais um pouco sobre quem foram os antepassados do Soito e qual seria o feitio, o caráter, os hábitos desses antepassados para melhor nos conhecermos a nós próprios.

terça-feira, 12 de setembro de 2017

ABANÃO


Defende-se neste BLOG que o Soito (concelho do Sabugal) é uma povoação muito antiga e que foi formada na época em que os romanos se fixaram aqui impondo a sua cultura.
 
Os bons terrenos para pastorícia e agricultura fizeram, desde sempre, a zona onde o Soito está implantado muito cobiçada e, há milénios, por aqui andavam os homens dispersos em comunidades familiares, aproveitando o espaço para a sua subsistência e da sua família.

Os romanos promoveram a fixação dessas comunidades em aglomerados populacionais que inicialmente não tinham nome identificativo e que foram tomando um nome que os distinguisse dos outros. O Soito tomou nessa altura o seu nome que em latim é SALTUS.
O Soito, pela riqueza das suas terras foi sempre uma povoação importante e cobiçada em toda a zona.
No ano 1911, o soitense Diogo Lopes Gomes Freire ofereceu a José Leite de Vasconcelos, diretor do Museu Etnológico Português, atual Museu Nacional de Arqueologia, um “machado de bronze de talão e uma aselha. Apresenta forma, perfil e secção sub-rectangulares. O gume é convexo, extravasado, com ligeiros sinais de utilização. A face superior possui uma nervura central”. Consta também na descrição do Museu que o instrumento é da “Idade do Bronze Médio / Final”, a matéria de que é feito é “Bronze”, a técnica “fundição em molde, largura 3,94 cm, espessura 1,90 cm, cumprimento 17,80 cm, peso 269,9 g”
 Historial: “Peça recolhida no Souto, na zona do Sabugal, oferecida ao atual Museu Nacional de Arqueologia em 1911 por Diogo Lopes Gomes Freire. Contexto territorial: Local Souto. Classificação arqueológica Souto. Estação Souto”.

Temos portanto uma prova de que por volta do ano 1.500 antes de Cristo, já por aqui andavam os homens. Com certeza que muitos outros instrumentos e utensílios utilizariam na sua atividade mas estarão para aí subterrados nalgum canto.

Desenvolveu-se a ideia de que o Soito era uma povoação formada muito recentemente e que há 300 anos era um povo diminuto, formado por agricultores vindos da Nave. Essa ideia impôs-se e agora é muito difícil convencer as pessoas de que não é nada disto e que o Soito é a povoação mais antiga de toda a zona, que foi formada há mais de dois mil anos.

Mas esta é uma guerra que tem de ser travada para a reposição da verdade e para homenagem aos nossos antepassados.

Tenho consciência de que isto representa um grande ABANÃO nas ideias consolidadas, mas tenho a certeza de que reposição da verdade será muito benéfica para o Soito.
 

CARLOS DA CONCEIÇÃO


Carlos Alberto da Conceição nasceu em S. Paio de Gramaços (Oliveira do Hospital) e emigrou para o Soito em 1963, com 19 anos, para trabalhar nas obras. No Soito conheceu a mulher com quem casou e de quem tem dois filhos.
Publicou agora (Julho 2017) o seu livro “SOITO – Pedaços de História”, que apresentou aos soitenses nas festas de Agosto.
Segundo afirma na contracapa “este é o meu modo de agradecimento ao povo do Soito pelo modo como me recebeu e nele vai todo o amor que tomei por esta terra como se nela tivesse nascido, pois, se a nossa terra é aquela aonde nos sentimos bem, esta é a minha terra, pese embora as saudades daquela onde passei os verdes anos e onde ainda vive a minha mãe e mais família e onde regularmente vou matar saudades”.
Segundo refere, escreve desde 1960 artigos para jornais e, desde 1994, na rádio bragançana declamou poemas e nesse programa foi apelidado de “Ticarlos do Soito”. Gostou do apelido e, desde então, tem feito as suas publicações com esse pseudónimo.
O livro contém diversos textos que o Carlos foi publicando ao longo dos anos e de interesse para todos os soitenses. Desde documentos históricos sobre o Soito até casamentos, batizados, falecimentos desde que existe registo paroquial, tudo fica agora disponível neste livro.
Muito interessante é o facto que refere dos documentos relativos à Santa Casa da Misericórdia do Soito que estavam para ser inutilizados e que o Carlos preservou e que são de um valor histórico incalculável. No livro dá-nos varias relações relativas à Santa Casa, desde provedores a secretários desde os anos mais remotos até aos dias de hoje.
Podemos ali descobrir alguns familiares nossos.

 

segunda-feira, 11 de setembro de 2017

JOSÉ AUGUSTO BIL


José Augusto Nabais, nasceu em Janeiro de 1945. Vive em França. Filho mais velho do Ti Zé Bil. Em 2009 escreveu a sua autobiografia como título "José Clandestin / Clandestino", em francês e português.
Descreve todos os episódios da sua vida de que se lembra e que ressaltam as lutas, as alegrias e as desilusões por que teve de passar na sua vida.  
O nascimento no Soito, a educação em casa e na escola, os jogos, os divertimentos, os trabalhos, contrabando, passagem a salto para França, chegada ao bairro de lata de Nanterre. Novo Mundo, a vida de soitense em França.


Como diria o poeta:

eu sei que muito dirão
que peco de atrevimento
se largo meu pensamento
pró rumo que eu escolhi,
mas sempre serei assim:
galopeador contra o vento.
É assim a vida do Zé Augusto.

Ainda agora, com 72 anos, continua a galopar contra o vento, a lutar por uma vida melhor.

Este livro descreve a vida vivida em primeira pessoa por um agente da revolução geracional dos anos 50/ 60 do século XX.

Ficamos a compreender o que era a vida dos soitenses e que lutas tiveram de travar para dar uma volta completa da sociedade em que nasceram.

Livro indispensável para quem não viveu os meados do século XX e quiser saber quem éramos e o que tivemos de fazer para dar a volta.

 

EUGÉNIO DOS SANTOS DUARTE


O Ti Eugénio, recentemente falecido, nasceu no Soito em 25 de Abril de 1927. Filho de José Francisco Duarte e Elvira dos Santos. Casou Alice Aristides, filha de Manuel Aristides (Impedido) e Benedita Dias, de quem teve três filhos.
O Ti Eugénio aprendeu a profissão de carpinteiro com o pai e, com ele, tomou o gosto pela cultura popular. Esteve em França, foi empreiteiro de construção. Homem de esquerda, ficou muito orgulhoso na data do seu nascimento, 25 de Abril, porque já vinha do seu pai e ficou com ele e família a oposição ao anterior regime político, deposto precisamente nessa data.
Entusiasta das manifestações culturais, esteve na génese nas festas de S. Cristóvão em 1964, tendo sido vários anos mordomo. 
Sempre atento ao progresso do Soito, esteve no primeiro grupo que, em 1981, fundou a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários do Soito, tendo sido da primeira direção e de outras posteriores.
Em 2009 publicou um livro com o título "Baú da Memória... o Soito de antigamente", no qual compilou as crónicas que foi publicando no jornal "Cinco Quinas", ao longo de três anos, sobre os costumes do Soito, no século XX e até anteriormente.
Diferente do livro de José Manuel Lousa Gomes, na medida em que não tem nenhum limite de tempo ao qual sujeite as suas MEMÓRIAS.
Até 2009, o Ti Eugénio faz-nos a apresentação do essencial dos costumes do Soito e das transformações que foram ocorrendo. Cita factos e datas de acontecimentos desde que se lembra.
A sua visão crítica e desapaixonada dos acontecimentos do Soito no séc. XX, torna este livro indispensável para todos os que queiram ter informação sobre a nossa freguesia e nosso feitio.
Diz o Ti Eugénio: “Gostaria que os leitores gostassem tanto destas memórias, como o prazer que me deu rememorá-las e escrevê-las para “memória futura”.  

JOSÉ MANUEL LOUSA GOMES


José Manuel Lousa Gomes nasceu no Soito a 23 de Novembro de 1912, “mas só ali vivi até Setembro d 1930”, como refere no seu livro MEMÓRIAS DA MINHA TERRA – SOITO – SABUGAL. USOS, COSTUMES, TRADIÇÕES E LENDAS DO MEU TEMPO
Publicou o seu livro em 1985, segundo me informou a sua filha Margarida, residente em Vila do Conde, quando já sabia que o cancro lhe tinha dado um prazo curto para o acabar.
Em 21.06.1985, dedicou um exemplar ao P. José Miguel, seu condiscípulo da escola primária e, em 23 de Julho de 1985, partiu.
O seu livro recorda, como ele diz, as suas memórias de toda a gente do Soito até 1930. Afirma na introdução  que escreve com muito carinho pela terra onde nasceu e que até então ninguém tinha feito melhor… ou pior, “por ser este o primeiro trabalho que se escreveu sobre o Soito”.
O escritor historiador quadrazenho Jesué Pinharanda Gomes, ficou impressionado  com este livro pela “sua natureza poética e imagística”.
Para conhecer o século XX do Soito, este é um livro indispensável  
Embora as suas memórias sejam de pessoas e factos até 1930, nos 30 anos posteriores, poucas evoluções se teriam verificado na estrutura produtiva e nos costumes do Soito.
É extraordinária a memória que o autor guarda das gentes do Soito. Eram pastores os seguintes homens do Soito, o Ti Zé tal e o Ti Manuel Tal, lavradores o Ti este, o Ti aquele e mais cem ou duzentos. Lavradores que tinham éguas. Tinham éguas e terras mas não eram lavradores. Tinham cavalos mas não eram lavradores.
Uma cena de animatógrafo no curral e loja das vacas do Ti Cascuda…
“Eles e elas, que na altura constituíam a elite da mocidade da minha terra, já quase todos e todas transpuseram os umbrais da Eternidade! Que tristeza me faz recordar tudo isto meu Deus…!”
E assim cada página uma recordação, uma imagem, uma poesia. Ali estão referências a todas as famílias dos soitenses atuais.
Vale a pena ler.
Talvez a Srª Drª Margarida, filha do autor, se anime a colaborar numa reedição, para aqueles que ainda não têm o livro.